quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Harvard University

Acordei cedo e, novamente, as 8 horas eu já estava no Commuter Rail esperando o trenzinho. Fiquei pensando se arriscava ou não os $4,75, e acabou que resolvi arriscar. Entrei no trem, arrumei um lugar pra sentar, fechei os olhos e tentei dormir. Chegando na North Station me levantei e saí do trem de boa, economizando mais um dinheirinho.
O plano hoje era Harvard, mas ontem a noite eu decidi ver duas aulas no MIT, então resolvi reservar a manhã pro MIT e a tarde pra Harvard. A aula do MIT começava as 9am, mas só consegui encontrar o prédio e a sala as 9:05am. Via porta fechada mas me arrisquei a entrar. Minha primeira aula numa das melhores universidades do mundo, e já chego atrasado! A sorte é que era um anfiteatro grande, a entrada era por trás, e o professor ainda estava começando a aula. Fui silenciosamente até a cadeira mais perto da porta, a mais no fundo possível, e me sentei sem fazer nenhum barulho.
A experiência foi sensacional! A aula era sobre Aerospace Engineering e eu não entendi metade do que o professor disse, mas pude observar detalhes bem interessantes. Assim como em qualquer aula o professor perguntava se alguém tinha dúvida e ninguém levantava a mão, e eu tenho certeza que nem todos entendiam tudo. O auditório tinha 6 quadros negros, um retroprojetor (que funcionava, ao contrário dos da UnB) e um projetor pra computador, onde um garoto ficava comandando fazendo o que o professor pedia (passando slides pra frente, trocando de aplicativo, subindo e descendo a tela do projetor). O professor usou todos os recursos que tinha, mudando constantemente de um pro outro. Aí ele fez uma pergunta de múltipla escolha e cada aluno, com um controlezinho que possuía, selecionou a resposta que achava ser a correta. No final o projetor mostrava a porcentagem de cada resposta, e qual que estava certa! A partir disso o professor sabia se a classe tava entendendo ou não, e todos os alunos respondiam sem a pressão de alguém saber se ele acertou ou errou. Incrível.
Reparei também nos alunos (90% com laptops em vez de cadernos): alguns anotavam sem parar tudo que o professor falava e outros checavam email e conversavam em chats do tipo MSN (como acontece na UnB em qualquer aula que tenha um computador com acesso a internet).
Saí da aula e segui em direção a minha segunda aula na MIT. Essa primeira escolhi por ser ligada a aeronáutica e espaço. Já a segunda aula escolhi para fazer uma comparação com o que já tive na UnB: Física 1 – Classical Mechanics, que consiste basicamente em fórmulas que relacionam posição, velocidade e aceleração de um corpo (S = S0 + Vt + ½At²). As aulas normalmente terminam 5 minutos antes (9:55) e começam 5 minutos depois (10:05), para dar tempo dos alunos e dos professores trocarem de sala. O problema é que como ainda era ‘calouro’, levei mais de 10 minutos pra sair do prédio 32 e chegar no 26. Como sabia que estava atrasado já cheguei entrando e aí dei de cara com uma salinha minúscula, enquanto esperava outro auditório grande. Ainda tinha gente entrando, então não fui assim tão reparado quando sentei na última cadeira do canto.
Os alunos eram apenas adolescentes, todos bem novos, provavelmente da idade que eu era quando entrei na UnB, ou mais novos. O professor era um velhinho do estilo Einstein que falava bem devagar e parava bastante pra pensar. Ele começou dizendo que essa aula ia ser pra os alunos resolverem alguns exercícios junto com ele, e passou então um exercício e algumas perguntas:

“Um carro parte do ponto 0 com velocidade 0 e uma aceleração de 3.2m/s². No mesmo instante um caminhão passa por ele com uma velocidade constante de 20m/s. Responda as seguintes questões:
a) Quando um vai passar o outro?
b) Em que posição um vai passar o outro?
c) Qual velocidade eles estarão?
d) Quando eles terão a mesma velocidade?”

Estudei essa matéria a 5 anos, então tinha que saber algo sobre ela. Achei muito interessante resolver as questões de cabeça enquanto os garotos (alguns provavelmente futuros gênios) iam lutando com folhas de papel, mega calculadoras HP e esboços de gráficos. Sei que é injusto comparar, mas valeu o gostinho. O incrível foi ver a lerdeza do professor. Meu professor de Física1 (‘querido’ Otil, só passou 26 alunos dos 80) era bem melhor professor, e ainda jogava as informações pra gente como se fossemos computador. Começo a achar que o MIT, apesar de ser sim uma grande universidade, é definida pelo nível dos alunos que entram, da mesma forma que a UnB consegue ser a melhor de Brasília por causa dos alunos que estudam lá (porque se dependesse dos professores...). Tenho sim um campo de amostras muito pequeno (1 aula de 1 matéria), mas só de ver que minha Física 1 foi melhor dada que a Física 1 da MIT já valeu Boston.
Saí da MIT e segui pra Harvard (caracas que chique eim), debaixo de uma chuva pesada (pelo menos não estava mais tão frio). Chegando lá descobri que o tour da manha eu já tinha perdido, mas o da tarde começava as 2pm. Perguntei onde comer barato e me indicaram um restaurante mexicano chamado “felipe’s”.

Sanduba de arroz, feijão, frango, alface, tomate

Todo mundo comendo o sanduíche com a mão, e meti o garfo e faca nele. Não conseguia imaginar comer arroz e feijão com a mão, inconcebível! Comi bem devagar pra ver se enchia e voltei pra área do tour, onde enrolei por meia hora aproveitando a free wireless dali. E foi aí que eu tive o momento de maior coincidência de toda minha estadia nos EUA.
Estou eu ali em pé esperando o tour começar quando um garoto pergunta pra todos que estão ali dentro quem está ali pro tour. Só eu levantei a mão! Maravilha, tour particular! Começando então com um tour particular por Harvard, e de graça, quem tem isso? E então começamos a conversar e ele me pergunta de onde eu sou, no que respondo: “I’m from Brazil, and you?”. Pois é, são 16000 estudantes em Harvard, sendo que apenas 10 (ou perto disso) são brasileiros: 1/1600 = 0,0625% de chance da pessoa que eu falar ser brasileira e não é que ele vem e me responde: “Me too!”. Caracas! Tour particular em Harvard com um Brasileiro! Alguém me diz quais são as chances disso acontecer? E não acabou por aqui! Adivinhem qual o nome do guia turístico que veio direto de Belo Horizonte?

Rafael (BH) e Rafael (BSB)

Beleza, mas o que tem de bom em ter um guia particular e brasileiro? Bem, digamos que fui em áreas que tours normalmente não vão, e que se fosse estrangeiro provavelmente não me levaria, como por exemplo a área de refeição dos calouros, onde foi baseado o salão principal do castelo do filme Harry Potter (idêntico! Inclusive Harvard possui “casas” da mesma forma que o Hogwarts, só que são 12).


O Rafael tinha vindo pros EUA a 7 anos e desde então ainda não voltou pro Brasil. Conversar com ele foi uma experiência incrível, em muitos sentidos. Como ele passava o dia falando inglês, acabou perdendo um pouco do português. Achei o inglês dele perfeito, mas o português vinha sempre com um sotaque que só os que não têm português nem espanhol como língua materna têm (sotaque de americano falando português). Só que ele possuía também outro sotaque muito forte, afinal de contas ninguém sai de Belo Horizonte sem levar a marca do ‘Uai’. Então, no final das contas, o Rafael tinha um português com sotaque americano e ao mesmo tempo mineiro! Era espetacular prestar atenção e conseguir identificar os dois sotaques, as vezes isolados, as vezes somados. Essa foi única! Além disso também tinha o fato, pequeno se comparado ao do sotaque, que ele estudava na universidade considerada a melhor do mundo! Enquanto conversávamos percebi que ele as vezes se perdia no português. Falei então que ele podia falar em inglês que eu entendia sem problemas, mas ele disse que queria treinar a língua materna, então deixei quieto.

Harvard Yard coberto de neve

Estátua de John Harvard

John Harvard foi um cara muito rico que doou uma quantia exorbitante de dinheiro pra universidade, que resolveu então mudar o nome pra Harvard. Essa estátua é conhecida como “The three lies” (As três mentiras). Nela está escrito que John Harvard fundou Harvard, primeira mentira. Segunda: o ano que está mostrando nela (1x38) está errado por dois anos, na verdade foi em 36. E por último a principal: O cara da escultura na verdade não é John Harvard! O prédio que tinha tudo sobre John Harvard foi destruído por um incêndio. Então pegaram essa escultura (feita pelo mesmo cara que fez a de Abraham Lincoln em Washington, D.C.) que tinham ganhado de presente e colocaram como se fosse o tal do Harvard.
Como o tour foi particular, pude entrar como acompanhante na biblioteca principal de Harvard. A pena é que não se pode tirar fotos lá dentro, e não quis arriscar a pele do meu chará. Como a maioria dos prédios e Harvard, ela é feita na arquitetura do passado, toda de madeira, e é linda. Há muito tempo um aluno bem rico de Harvard começou a colecionar livros raros e se mudou pra Europa. Quando resolveram voltar pros EUA, compraram passagens no maior e mais famoso navio da época: Titanic. Só a mãe sobreviveu, e resolveu doar uma grande quantia pra universidade, assim como toda a coleção de livros raros que o ex-aluno tinha. Esses livros e toda essa história estão em uma sala especial (cheia de câmeras e alarmes) que visitamos dentro da biblioteca de Harvard.
Por último, pra fechar com chave de ouro, o Rafael me levou em uma área que só alunos podiam ir. Ele estava estudando Neurobiologia, então tinha acesso a laboratórios de biologia, que foi onde demos nossa última volta.

Profissional (gosta de biologia)
Amador (odeia biologia)

O que eu estava vendo ali (e que pra mim só pareciam pontos pretos em um líquido amarelo) eram as famosas células tronco. O projeto em que ele estava trabalhando (com os professores que mais sabem de célula tronco de Harvard, ou seja dos EUA, ou seja do Mundo) consistia em desenvolver as células tronco e depois transformá-las em neurônios para estudá-los. Até eu, que não gosto dessas coisas, achei super interessante.
Dali voltamos pra onde ou tour tinha começado e nos despedimos, pois ele tinha aula e pra essa eu não podia ir. Segui então pro subway, pra pegar o trenzinho pra ir pra casa. Dessa vez resolvi pagar e comprei o ticket antecipadamente, e não é que justamente nessa o cara passa checando os tickets de um por um?
Justine me pegou na estação do Commuter Rail e fomos pra casa, onde ganhei uma cozinheira particular...


... que preparou um jantar maravilhoso, de deixar saudades,...

Água na boca

... acompanhados de bebidas do mesmo nível!

3 comentários:

Unknown disse...

Belo passeio por Harvard. Que chique vc ter conhecido essa universidade, e ainda por cima (e de novo!), com guia particular. Obrigado Rafael mineirinho.
Mas bom mesmo parecia estar o jantar preparado pela Justine! vou fotografar o que faremos aqui em casa na 6a. feira, para a Carla (é, a Carla está aqui em Brasília!!).
Mais uma vez, obrigada por tudo, Justine. Grande beijo pra você.
É isso aí, Rafa. Um beijão e quando der, poste mais e mais.
Te amo muito.
euzinha, sua mãe

Anônimo disse...

Rafa,

Fantástico. Muito legal.
Estou admirado com os detalhes que vc escreve. Vc lembra de tudo?
Que coincidência,encontrar um Rafael em Havard, hein? Ou não se trata de coincidência? Quem sabe?
Muito bacana tudo o que vc viu.
Sobre a aula de Física, as estruturas são importantes mas, as pessoas (neste caso os alunos e professores) são muito mais.
Continue curtindo tudo. Estamos aqui torcendo por vc(s).

Um beijo,

Marcos

Anônimo disse...

Oi Maninho!
Muito fera o seu passeio pela Harvard! Outro mundo, né? QUero conhecer um dia. Um dia nós vamos viajar para os lugares que vc foi e vc vai ser o nosso guia! :)
Que bom que vc postou! Tava demorando... E eu tb fico impressionada em como vc lembra dos detalhes!
To com saudades!! Mil beijos para vc! Te amo muuitooo!!!