terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

M.I.T. - Massachusetts Institute of Technology

Seis e quinze meu alarme tocou. Seis e meia também e seis e quarenta também. Levantei lutando com o sono: debaixo do edredom tava tão bom e lá fora tava tão frio. Me arrumei, tomei aquele banho pra acordar e 7:40 Justine e eu saímos. Boston fica um pouco distante de onde ela mora, então não tem metrô perto da casa dela. O que tem é um trem chamado Commuter Rail que leva pra estação North Station, de onde se pega o metrô pra qualquer canto. Ela me deixou então na estação do trenzinho e seguiu pro trabalho. Na estação, perguntei pra um cara onde pegava o trem e ele me levou até onde o trem chegava. Perguntei então se tinha que pagar, e ele disse que se eu quisesse podia pagar dentro do trem. Beleza, esperei o trem chegar e entrei procurando onde comprar o ticket. Quando me toquei estava no meio de uma multidão, no meio do trem, sem conseguir andar pra qualquer lado e sem ticket.

Preso, e sem ticket

No meio do caminho um dos caras que trabalhavam lá gritou de uma ponta do carro do trem se alguém precisava de ticket. Só eu levantei a mão e ele, vendo que não ia conseguir chegar onde eu tava, respondeu alguma coisa que não entendi e sumiu pro outro carro. Chegamos na estação, desci e quando dei por mim estava já na rua, sem ter pago o tal do trenzinho! Bom demais, ainda mais porque o tal trenzinho custava uma facada: $4,75 dólares!
Como só tinha dois dias em Boston reservei hoje pro MIT e amanhã pra Harvard. Pro MIT eu tinha que pegar dois subways em direção a Kendall/MIT Station, só que a Justine tinha dito que a distância de uma estação pra outra era pequena, então eu podia pegar só um subway, e andar pro outro. Como um bom mochileiro, fui andando. Apesar do dia lindo que estava fazendo, o frio não dava trégua. Me perdi duas vezes (não tinha mapa, só a foto de um que tinha tirado do computador), mas no final consegui chegar na Charles/MGH Station, de onde peguei o metrô pra MIT.

‘Salt and Pepper’ Bridge

Saí da Kendal/MIT Station completamente perdido. MIT é uma universidade gigantesca que ocupa prédios e prédios e se mistura com a cidade. Boston fica do lado sul/leste do Charles River, sendo que do outro lado fica Cambridge. A universidade se concentra principalmente em Cambridge, mas também possui anexos em Boston. Andei um pouco e finalmente achei o que ia me servir de mapa:

Welcome to MIT

As 11am saía o guided-tour do prédio 7 (prédio principal do MIT), na Massachusetts Avenue (Mass. Ave.) 77. Vi o caminho no mapa e segui pra lá.

Massachusetts Institute of Technology

Entrei fascinado pelo lugar e já vi um agrupamento de estudantes num canto. Me aproximei e descobri que se tratava de uma aula de Airspace Desaceleration Research, ou seja: pára-quedas. Cada aluno tinha feito um tipo de pára-quedas (com tamanho e peso máximos definidos pelo professor) e o professor tinha fechado o cantinho do hall para cronometrar o tempo de queda de cada pára-quedas do terceiro andar até o térreo. O melhor tempo foi de 11 segundos e alguma coisa, os piores variaram em torno de 3 segundos, e a média ficou de 6 a 8 segundos.

Pára-quedas de plástico, palito e fita azul.

A aula me entreteu até as 11 horas quando começou o tour. Eram dois guias: um garoto que estava no segundo ano da graduação e que tinha muito jeito dos adolescentes americanos que adoram fazer tipo (adorava falar com o lábio esquerdo meio puxado pra trás, ‘Wassup bro?’) e uma caloura que estava se decidindo por Engenharia Mecânica ou Ciência da Computação e não falava muito. O esquema de graduação dos estates é um pouco diferente do nosso: enquanto no Brasil entramos já sabendo que curso vamos seguir e tendo já as matérias definidas, eles só durante o curso vão se decidindo, sendo que todos tem que fazer matérias básicas (que englobam matérias de todos os cursos) e podem ir escolhendo que matérias fazer e ir se direcionando pro que precisam pra se formar naquele curso. Outra coisa interessante, e que me confundiu muito, foi a diferença entre undergraduating e graduating. Eu ficava me perguntado: o que tem antes da graduação pra ser ‘under’graduating? O que acontece é que undergraduating é a nossa graduação e o graduating deles é a nossa pós-graduação. Enquanto usamos o pós pra falar de depois da graduação, eles usam o ‘under’ pra falar de antes da graduação, mas no final das contas é tudo a mesma coisa: graduação e pós.
O primeiro lugar que nossos guias nos levaram foi uma área de alimentação que fica na parte leste (acho que eles chamam de East-Part, ou algo assim). É um prédio com vários restaurantes e com muitas mesas e sofás. Como eles têm wireless por toda a universidade (!) e laptops como se fosse lembrancinha de festas (!!), em tudo quanto é canto tem gente sentada estudando ou mexendo na net.


De lá passamos na piscina olímpica que eles têm, sendo que do lado ainda tem uma mega academia. Tudo de graça (de graça uma ova que a faculdade é perto de $50,000 dólares por ano!).

Piscinas com academia ao fundo

Depois de passar numa capela maneira, seguimos pra parte de salas. Na foto um corredor com várias salas e, em baixo, o guia virado pra gente (ele só andava assim, de costas) puxando o lábio esquerdo.


Saímos na parte mais famosa da MIT, o gramado que dá pra trás da entrada principal.


Ali o guia contou uma história que me pareceu ser história pra turista. Ele disse que os alunos da MIT adoram pregar peças (‘Hacking’, sabotar), sendo que algumas delas entram pra história. Um dos ‘hacks’ mais comuns é ‘enfeitar’ o domo desse prédio. Então ele contou que quando o Senhor dos Anéis estava no auge, o domo acordou um dia enfeitado (hackeado) com um anel ao redor. Outro hack foi de um dia que o domo acordou com um carro de polícia em cima dele (reprodução em tamanho natural), com um boneco vestido de policial como motorista. Disse ainda que debaixo do banco os policiais encontraram um livro com mais de 200 páginas explicando como tirar o carro dali. Quando perguntado como colocaram o carro lá o guia disse que não sabia, já que pra chegar lá só pelos dutos de ar condicionado. Achei divertida a história, mas muito difícil de acreditar, bem coisa de filmes. Seguimos pra parte oeste da universidade, em direção ao prédio de tecnologia (“Stata Center”), um prédio incrível, e não só por tudo que tem dentro dele, mas também pelo seu formato, digamos... único!

Stata Center

Assim que entramos o guia mostrou um mural que tinha não só a foto do carro hackeado em cima do domo, como também o próprio carro! Incrível! Então era verdade! Fala se agora não dá vontade de estudar aqui?

Mural de Ética de Sabotagem

Andamos mais um pouco em direção a uma das milhares de bibliotecas espalhadas pelo MIT. Além de muitos livros, sofás (mais sofás) e muita gente com laptops, ela tinha uma interessante escultura no centro:


Ela foi feita para ter somente um lado. Como isso? Bom, se você colocar o dedo em um ponto e com outro dedo for dando a volta na escultura você consegue passar por todos os pontos (inclusive no lado oposto de onde está seu dedo) e voltar ao seu dedo, sem desencostar da escultura. De lá voltamos pro hall principal e fui conversar com a guia: Emily. Fiz algumas perguntas com relação a graduação e pós-graduação, e se eu conseguia entrar pra participar de alguma aula. Demos uma volta e ela me levou nos centros de graduação e de pós-graduação, onde conseguiu pra mim uma lista das aulas que eu podia ver (que diferença, em época de aula daria tudo pra não ter aula e agora, nas férias, eu indo atrás de aula). Antes de ir embora perguntei se tinha sido difícil entrar na MIT e ela disse que como ela era muito ativa na high-school não foi tão difícil, além do fato dela nunca ter tirado nenhum B, sempre A (é, fácil fácil). Ela tinha aula na hora do almoço, então segui sozinho pra área de restaurantes que o guia tinha nos levado. Subi pro segundo andar procurando algo barato e encontrei a famosa Subway, com seus sanduíches de 30cm (aqui eles chamam de Footlong, já que usam pés como medida). Quando chegou a hora de pagar a atendente falou algo que não entendi. Ela repetiu e não entendi de novo. Ela então perguntou se eu era do Brasil e adivinha? Samira, brasileira com sotaque do sul que mora em Boston a 3 anos, trabalha no Subway do MIT como caixa e está, como todos que conheci que estão na mesma situação, morreeeendo de saudades do nosso querido país. Depois que já estávamos conversando que percebi os vários brincos, pulseiras, colares verde-amarelos. Sentei e comi um delicioso sanduba enquanto usava o wireless da MIT no meu laptop (afinal de contas não estudo lá, mas também tenho!). Enrolei ali até perto das 2pm, pois tinha uma palestra que eu queria ver e que começava 2:30pm: “3D Model of Cellular Electrical Activity”. Doido eu? Que isso... Na verdade o que eu queria era algum lugar com algo bastante complexo que reunisse físicos e matemáticos extravagantes do tipo Einstein. No caminho encontrei uma placa que me deixou pensando:


Ali na MIT milhões de invenções tinham surgido pra mudar o mundo, mexendo com força na história da humanidade. Não estava em qualquer universidade, mas numa das que mais ditam o que vem pela frente na questão da tecnologia. Muitas coisas mundialmente conhecidas tinham nascido ali, em algum daqueles laboratórios, daquelas salas, a partir de algum momento de inspiração e muito tempo de trabalho persistente de homens, as vezes garotos, que estão constantemente bombeando o cérebro com informações, perguntas e desafios. E foi assim, perdido em pensamentos, que consegui finalmente encontrar a sala da palestra. Não tive como tirar foto dos presentes, mas dei uma filmada básica (YouTube). Encontrei ali uns 4 parecidos com Einstein (daqueles que não tem tempo nem pra cortar o cabelo, ou estão tão bitolados nos estudos que esquecem de se arrumar quando saem da cama, ou nem ligam mais pra se arrumar), mas os outros eram homens e garotos comuns, que simplesmente tinham se esforçado pra entrar na MIT e tinham continuado normalmente com suas vidas como qualquer outro garoto em qualquer universidade: ralando e curtindo aos finais de semana. A palestra durou uma hora: passei 40 minutos interessadíssimo e 20 minutos lutando pra não dormir. Saí da palestra direto pro MIT Museum ($3 p/ estudantes), onde encontrei robôs, robôs e mais robôs (além de algumas engenhocas que pareciam robôs).

Braço mecânico

Kismet: reações idênticas a de um humano (e muito mais)

Tudo mexia e tudo dependia de tudo pra se mexer

2,191 trilhões de anos para girar a última catraca 1 vez

Robô que resolve cubo mágico!

O museu é incrível, não tive tempo de fazer quase nada nele. Tive apenas uma hora e meia, que passei no segundo andar, e só saí porque apagaram todas as luzes e tive que ir me guiando pelo sinal de Exit. Quando desci comentei com o velhinho da recepção que não tinha tido tempo pra ver todo o segundo andar e não tinha nem olhado o primeiro. Ele falou então que me dava 5 minutos pra dar uma volta pelo primeiro andar. Corri vendo tudo que tinha por ali, mas ainda assim levei 10 minutos pra sair. Tinha marcado com a Justine às 6pm num restaurante ali perto e então segui pra lá. Uma coisa engraçada com relação aos alunos da MIT é a forma que eles lidam com o fato de serem considerados ‘nerds’. Enquanto muitos passam a vida (bom, a vida é um exagero, talvez o primeiro e o segundo grau) lutando contra esse adjetivo, eles brincam com ele. Um exemplo é um ‘hack’ (que pode ser encontrado na foto dos hacks que postei mais acima) que fizerem em uma placa de sinalização de trânsito. Criaram uma placa idêntica à placa normal, mas escrita “nerd walking”, com um desenho de um garoto com mochila e pasta andando. Um bom exemplo desse lado ‘nerd’ é o bar onde encontrei a Justine:

Miracle of Science Bar

Eu e Justine com o menu no fundo

O prato que agente pediu tinha uma carne deliciosa, com um feijão frio (acho que era de salada) e um pão maravilhoso. Deu pra encher a pança (claro que eu tinha acabado de comer alguns nuggets do McDonald’s pra não gastar muito ali).

Jantando no Bar do Milagre da Ciência

Saímos de lá e passamos em um supermercado antes de ir pra casa. No caminho começou a nevar e antes de dormir ainda tirei uma foto da janela da Justine com a rua cheia de neve e com o carro que passa a noite tirando a neve da rua.


Antes de dormir ainda dei a idéia de descermos pra tirar fotos, que ela respondeu dizendo que eu podia descer que ela tirava a foto dali da janela. É óbvio que não desci.

9 comentários:

Unknown disse...

Cá estou eu de novo, e de novo parece que serei a primeira a comentar.
Achei legal o Éldio postar pra vc. Fico feliz que tudo tenha sido tão bom em DC.
E que loucura esse MIT, hem Rafa? Você, de mim, tem todo o apoio pra virar um "nerd", se quiser.
O crepe que vc e a Justine comeram parece delicioso. Dá vontade de sair aqui e comer um também.
A vó Mille disse que ia tentar postar, mas acho que ela não conseguiu. De qq forma sempre te manda muitos beijos e está sempre lendo as suas postagens.
E a Carol? Tudo bem por aí?
Manda um beijão para ela. Estou torcendo pra que vocês se divirtam muito por aí.
gostou da Suiça?????? Que pergunta, né? :)
Bom, continuo sempre esperando o próximo capítulo da sua aventura.
Te amo muito.
Te cuida, e cuida da Carol também :)
Mil beijos.

Unknown disse...

Rafa, pra que cidadania italiana pra quem está se tornando cidadão do mundo!!
Esqueci de dizer que a Petra morou em Génève muitos anos. Sua avó e eu estivemos em Lucerne, onde tem o Monte Titlis, uma montanha onde a gente sobe de "lift" e tem neve e é gelado o ano inteiro, inclusive no mais alto verão.
Tem tb uma ponte de madeira toda florida, que é muito linda.
Lá tudo é lindo!
Beijão pra você e Carol e muito amor da sua mama.

Anônimo disse...

Quer dizer que você se identificou com o mundo dos nerds, é? Muito fera a MIT, Rafa. Um ambiente diferente da UnB, né? parece que lá tem uma estrututa um pouco melhor... =/ Hehe! Falando em UnB, jajá começa o período de matrícula, né? Se vc for voltar, não esquece de se matricular! Mas se resolver ficar por aí, todo apoio!!! Assim que vc resolver, eu já comprou (leia-se: papai, mamae ou vó mille compram) minha passagem para te visitar! Beijos da mana que te ama e que está com saudades!!
Beijos pra Carolzinha também!

Anônimo disse...

Rafa,

Fantástico. Muito legal. O único problema é que alguns " nerds" se perdem e não sabem muito bem para que aprenderam tanta coisa. Bacana, são aqueles que sabem o que estão fazendo e quando terminam o curso aproveitam e se dedicam para algo construtivo.
Conheçca tudo por aí porque se Deus quiser vamos voltar e vc não terá mais desculpas para ficar no quarto do Hotel vendo televisão!!!
Veja se me liga ou envia um e-mail.

Beijos,
(pra Carol)

Abraços (pra vc)!!

Marcos

Anônimo disse...

Justine,

Muitíssimo obrigado pela acolhida especial do Rafa.

Um beijo,

Marcos

Anônimo disse...

Rafa

Tenho tido noticias por todos, mas ha alguns dias tenho tentado enviar mensagem e não estava conseguindo. Hoje seu pai me ajudou e vi que faltava só um pequeno ponto no endereço nosso, meu e da Ana.
Muito para comentar, noticias boas da Marcela e de verdade: muitas saudades. Estamos todos muito felizes pela verdadeira "viagem" que você esta fazendo. Com certeza não vai esquece-la pro resto da vida. Agora que consegui entrar quero saber noticias da Europa e quem sabe viajar um pouco contigo.
Um beijo bem grande com muito carinho pra voce, extensivo à Carol.

Muitos beijos nossos e da lela too.

Com todo carinho.....

Anônimo disse...

Oi Rafa, todos os dias me distraio lendo seu relatório. Alguns fiquei preocupada (andando em NY até altas madrugadas ) Graças a Deus já passou o susto. Aproveita bem junto com a Carol o tempo que ainda tens para curtir essas férias.Carlinhos tem acompamhado tuas peripécias. Continuo torcendo muito e pedindo a Deus que te proteja.Beijos da vá Mille











agora é tocar pra frente e aproveitar até o último dia.

Eduardo disse...

Tá tudo muito bom, tá tudo muito bem... Mas cadê os novos post? êta blogueiro vagabundo... Já soube que você já está na Suíça. E não sabemos nada como foi em Madrid! Carol, faz esse pilantra sentar no computador e escrever. Agora, o MIT, sensacional. Parece que fez o Rafa voltar a pensar em ser um nerd em tempo integral, deixando os escritos de lado? E que viagem "boa" o busum dos chinas. Também, quem mandou ser mão de porco e não pegar um transporte melhor, embora pouca coisa menos barato? Com as "despesas" que você andou tendo - ficando de graça em tudo quanto é lugar, bem que poderia enfiar a mão no bolso... hehehe. E aproveite que, na volta, terá UnB e trampo!!!!
Abraços do Eduardo (seu tio)
hahahahahaha. Ao estilo do meu vizinho. aliás, ontem, saía eu do meu banco no Gilbertinho quando encontrei MA e colegas se preparando para almoçar. Na volta, encontrei de novo a peça, com muitos centímetros a mais na barriga... Como come o cidadeão...

Anônimo disse...

Meu querido,

É melhor escrever logo porque estão usando o seu blog para comentários desnecessários.
Você sabe como é jornalista, tem que dizer algo de alguém!
Estamos querendo mais notícias!

Marcos (todos já sabem, mas é bom repetir: seu pai)

Beijos (pra Carol).